Cesarea (necessária) da Dani Azevedo, nascimento da Ana Vida

Faz pouco mais um ano que recebi o melhor presente que eu poderia receber (tem horas que nem acredito que eu sou merecedora de uma criaturinha tão especial), minha Ana Vida, cheia de vida, toda carinhosa, que faz a minha vida rica de amor, de alegrias, de significados, de buscas... Não existem palavras que traduzam tudo isso.

Agora consigo falar melhor da chegada desse presente. Fui muito atrapalhada ao recebê-lo. Me assustei com tudo isso. O parto domiciliar almejado, daqueles onde a dor era o que mais poderia assustar. Imaginava parir minha filha na água, o Murillo sendo o primeiro a pegá-la saindo de mim, colocar minha filha no peito, ter o tempo que precisasse para aquecê-la no meu peito, colocá-la para mamar logo, loguinho (não imaginava quanto tempo seria exatamente, mas sabia que era naquela hora ainda) e poder curtir minha filhinha no colo, no peito, não ficar longe dela nem para fazer xixi (sim, eu imaginava isso...)...

O parto real foi: uma espera que me enlouqueceu principalmente na última semana. Não sabia o que estava fazendo de errado, o que não estava conseguindo liberar, o que deveria fazer que não estava fazendo ou não fazer que estava fazendo. A espera durou até o 7º dia da 41ª semana. O trabalho de parto começou às 5:30 da manhã. O Murillo já não foi trabalhar. Era aquele O dia. Tinha um misto de felicidade, medo e dor. A Ivanilde chegou lá pelas 11:30 e a Cris Balzano logo em seguida. Eu já estava no chuveiro. O Murillo e as meninas armaram a piscina no espaço da sala que já tínhamos deixado livre para isso. Não lembro de algumas partes, mas lembro de passar uma tarde inteira na piscina, com contrações completamente controláveis. Não lembro se estávamos controlando a frequência (provavelmente, sim). Lembro de conversar com a Ana Vida dizendo que eu esperava por ela, que estava tudo bem para ela poder vir para os meus braços, que queria muito sentí-la no meu peito...

Resumindo, pois a idéia não era um relato de parto (imaginava que nunca iria escrever tudo isso para vocês, mas estou deixando fluir... acho que preciso disso), não sei que horas eram, a Ivanilde achou melhor romper a bolsa para ajudar a engrenar no TP, pois as contrações não estavam reguladas. Aceitei, meio a contra gosto, mas aceitei. Tinha mecônio! Nessa hora a equipe já estava completa: a doula (Cris Balzano), a parteira (Ivanilde) e a pediatra (Sandra). A Ivanilde se assustou um pouco quando viu o líquido esverdeado e me falou do mecônio. Se reuniram para decidir o que seria melhor e todas concordaram em me levar para o hospital (infelizmente era o Santa Catarina). Acho que chegamos no hospital em torno da meia noite. Não conhecia a Cátia Chuba. A conheci na sala de espera. Lembro de ter ficado um tempo na sala de consulta (sei lá que nome dão para aquela sala) e então me levaram para uma delivery apertadinha. Lá a Cátia colocou ocitocina na minha veia e então começou meu desespero. Que dor era aquela?!?!?!?!?!!?! Chegou uma hora que estava sentindo que desmaiaria. Não tinha mais forças para ficar em pé e agachar quando as contrações vinham. Lembro que cheguei a pedir para a Cris Balzano "já que tem que sair, faz cesária logo...". Ela me disse "Dani, calma, antes da cesária ainda tem a possibilidade de analgesia". Eu pedi para chamarem o médico, que não veio tão rapidamente pois estava em outro hospital atendendo outro parto. Não sei quanto tempo eu fiquei naquele desespero, quantas contrações nesse período, mas eu já não conseguia pensar em mais nada a não ser um milagre e minha filha em minhas mãos em dois segundos (sim, pedia muito um milagre daqueles bem feitos naquela hora) ou a chegada do médico e a picada que sempre tive tanto pavor. Eita homem tão desejado na hora do parto.

Depois da analgesia, voltei à consciência e consegui ajudar, fazer força, tudo o que me mandavam, sentindo tudo, mas com dores suportáveis, pois a analgesia foi feita por médico super de confiança da equipe. Já estava com dilatação total, o Murillo me disse que já dava para ver a cabecinha da Ana Vida e, mais momentos tensos. Lembro da Cátia e da Ivanilde fazendo "manobras" lá embaixo com caras de preocupação. Acho que foi a Ivanilde que me explicou que estavam tentando devolver o cordão que estava escorregando antes da cabeça da Ana Vida. Logo em seguida, a Cátia me falou que sentia muito, mas que o mais seguro para aquela situação era irmos para a cesária. Juro que na hora, o que passou na minha cabeça foi: quero minha bebê nos meus braços, não importa mais o que preciso fazer. Isso foi naquela hora, claro.

No caminho para a sala de cirurgia já comecei a tremer sem parar. Meus lábios tremiam muito, não conseguia nem falar. O corpo todo tremia sem controle algum. O Murillo ficou preocupado com a tremedeira e pediu que o anestesista visse se não era alguma coisa de errado. Lembro da Cris e do anestesista falando que era pelo cansaço de praticamente 24hs de TP e do nervosismo de estar indo para a faca.

Estava tão nervosa que não parava de falar. O Murillo segurava minha mão direita e a Cris minha mão esquerda durante a cirurgia. E eu não parava de falar. De repente, sinto um alívio de pressão, um vácuo, um espaço se abrindo dentro de mim e pensei: nasceu!!!!! Não lembro de ter ouvido nada. Só lembro de ver passar do meu lado, nas mãos de uma enfermeira desconhecida (ou será que foi nos braços da Sandra?), dois olhos arregalados no meio de um verde musgo. Pedi para o Murillo acompanhar. Ele tirou fotos dela e trouxe para eu ver. Não lembro se chorei. Lembro de ainda estar muito nervosa, de ainda não parar de falar. Estava muito nervosa para saber da Ana Vida. A queria comigo.

Trouxeram minha pequena para o meu primeiro contato de pele. Lembro de beijar, de ficar com medo que não deixassem, mas queria beijar, falar com ela, tentar confortá-la com minha voz, pois acreditava que ela me reconheceria. Foi isso que fiz por alguns segundos, não se se muito mais do que um minuto. E levaram minha menina.

Fui "fechada", e equipe foi indo embora depois de um dia/madrugada exaustivo, e acabei ficando com duas enfermeiras desconhecidas na sala de cirurgia (ainda falando pelos cotovelos), enquanto elas organizavam a sala, os materiais, equipamentos, sei lá o que era tudo aquilo naquela bancada. Abandonada! Foi isso que senti profundamente naquela hora. Me senti abandonada longe da minha filha e do meu marido (que já tinha sido encaminhado para o quarto, pois eu "logo" estaria lá com ele). Não sei quanto tempo durou até que eu chegasse ao quarto, mas foi uma eternidade para mim.

Não lembro também quanto tempo demoraram para me levar a Ana Vida. Eu não lembro muito do que aconteceu nesse período depois de eu chegar ao quarto porque foi aí que o mundo desabou. E eu tinha medo da dor do meu choro soluçante. Medo da dor e de me rasgar com o choro que precisava ter. Não me permiti chorar como queria... por muito tempo.

Depois de algum tempo que também não sei dizer quanto, me trouxeram a Ana Vida. Lembro de colocá-la do meu lado, envolta por meu braço direito para pudéssemos dormir e descansar daquela chegada atrapalhada e cansativa para nós duas, o Murillo, a equipe...

Eu sei que as enfermeiras do hospital só se lembraram de colocar a Ana Vida no meu peito no dia seguinte (quer dizer, depois de dormirmos um certo tempo). Logo deu para perceber que ela não sugaria meu peito, pois só jogava a língua para fora da boca, consequentemente o bico do seio. Chamaram uma fono do hospital que me assustou dizendo que ela tinha problemas de deglutição. Me assustei, pois imaginei que esse problema significava a impossibilidade de ingerir qualquer coisa. Então pedi ajuda para a Sandra que chamou uma fono de confiança dela.

Fizemos a primeira tentativa de relactação no hospital. E como me doia quando as enfermeiras tentavam me ordenhar. Dor física e emocional. Não sabia o que pensar, mais uma vez. Onde estava errando o que deveria fazer...

Aluguei uma bomba de tirar leite e fiquei por 3 meses fazendo exercícios com a Ana Vida, amamentando através da relactação e, quando ela conseguiu sugar, suportei apenas um pouco mais de duas semanas (feliz por achar que ela já conseguiria mamar sem a relactação loguinho e o desespero da dor). Resolvi tirar o leite na bomba e dar na mamadeira.

Me julguei, me cobrei por muito tempo. Ainda faço um pouco isso. Mas aos poucos consegui entender que aquele foi o meu limite. Eu já estava em depressão (provavelmente desde o parto ou um pouco antes), tenho uma sensibilidade maior no seio (descobri que existe diferenças de sensibilidade), ainda estava confusa com o parto, e foi a saída que me pareceu mais sensata para a situação. E acredito hoje que foi. Foi a maneira que consegui garantir o leite para a minha filha e o contato físico, o carinho, o olho no olho, percebi que poderia garantir para nós duas de outras formas.

Ou seja, gente, eu passei por um período de frustração muito profunda por conta de tudo isso. Eu sou muito agradecida pela Ana Vida. Passaria por tudo de novo para tê-la comigo...
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Bem, tive que sair agora para dar uma volta, antes de continuar escrevendo. Essa última frase saiu muito naturalmente e é bom ver que isso pode significar que o que conversei com a Cris Balzano, o que ela me disse, pode estar fazendo efeito. Explico: comentei com ela que não sei se teria coragem de um próximo, que queria que existisse alguém ou alguma coisa que me desse a garantia de que eu não precisaria passar por tudo o que passei de novo, pois não queria de jeito nenhum... Ela me disse: Dani, é preciso se entregar e aceitar o que tiver que acontecer (resumindo, tá?). Agora vejo que pode ser que esteja mais próxima de aceitar o que aconteceu comigo e, não sei se mais importante ou não, mas estou mais "livre" do peso desse primeiro parto, estou conseguindo enxergar o que é mais importante de tudo isso: minha pequena grande Ana Vida. Sim, passaria por tudo isso de novo. É só pensar na carinha dela dando gargalhadas com as mordidinhas que dou nela para dizer com todas as letras: PASSARIA POR TUDO ISSO DE NOVO!!!!!!!!!!!!

Um ano se passou e posso dizer que foi um ano de experiência de auto-conhecimento que em toda a minha vida não consegui ter tão profundamente. Ainda sou/estou atrapalhada com algumas coisas, mas ser esposa e mãe é o que mais fez sentido na minha vida.

Só não vou aproveitar o ensejo para providenciar o próximo porque quero os dois anos de intervalo entre os partos. Já sei que não quero outro parto, apenas. Quero um outro filho, um irmão (ou irmã, claro) para a minha filha. Quem sabe ainda mais um depois disso... (heheheheh para quem não sabia se teria coragem de um segundo...). Mas quero sim um parto mais suave para os que vierem. E que nesse caminho até lá eu consiga me conhecer ainda melhor, me permitir ter menos controle das coisas, aprender a confiar mais no meu corpo, e tudo o que falta para esse parto mais tranquilo.

Obrigada por quem leu até aqui. Corajosa(s)!!!!!

Não vou reler. Não vou me corrijir. Vou me deixar derramar do jeito que aconteceu.

Obrigada por me lerem!!!! Obrigada pelas boas vibrações para a hora do parto!!!!! Obrigada pela preocupação!!!!!

Beijos aliviados,

Dani Azevedo (mãe muito feliz por ter a Ana Vida nos braços)

3 comentários:

  1. Lindo relato! Muitas vezes a vida sai do nosso controle. Isso é natural, é Deus nos mostrando que é Ele Quem governa esse mundo. Mas Ele sabe o que faz e colocou a Ana Vida na sua vida como teria que ser! Parabéns e Felicidades

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  2. Realmente, um relato lindo... Estou de 38 semanas, sofrendo muito calada por não ter escolhido direito meu médico, por querer ter um parto normal e estar sendo encaminhada pra uma cesária eme deixando vencer por essa idéia... Meu bebê está com circular de cordão no pescoço, a US de perfil biofisico deu q ele tem 4kg, e ele está desde mês passado ou retrasado, com dorso posterior a direita... Meu médico fala demais em paralisia cerebral e bla bla bla.... Me arrependo de não ter pesquisado direito a vida dele, e me deixar encantar pelo seu jeito bondoso e educado e achar q ele faria meu parto normal a qualquer custo. enfim... Deus abençoe e ilumine sua família. =)

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  3. Obrigada pelo relato. Também passei por todo trabalho de parto, mas no fim, foi feito uma cesárea. Doeu mais na alma que no corpo... Chorei por meses, toda vez que lembrava de tudo. Até hoje (10 meses depois) se ficar pensando a fundo as lágrimas rolam. Mas acredito que passei por td isso por algum motivo...
    Deus sabe de todas as coisas. E é Nele que confio.
    Também quero outro bebê qdo completar 2 anos...
    Que Jesus abençoe vcs, e que venham mais bebês e partos por aí!
    Bjos

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