Joana Pontes Langhi Marini - VBA2C

Já faz quase cinco meses que Ana Luisa nasceu, as vezes parece que foi ha tanto tempo, noutras tenho a impressão de ter sido ontem.

Já e mais que tempo de escrever o relato do parto. A emoção já diminuiu, dando lugar a razão. E ainda não deu tempo da memória esfriar muito.

Mas, por onde começar? Me fiz e refiz essa pergunta. Fui reler relatos que me marcaram, que fizeram a diferença na caminhada pelo VBA2C. Semana passada fui ao Samauma contar meu relato… Bem, se eu consigo contar, consigo
escrever…

O nascimento de minha filhota foi a “cereja do bolo”, um bolo que foi feito ao longo de bastante tempo, um bolo que deu muito e pouco trabalho, dependendo do ponto de vista, um bolo com sabor especial, sabor de vitoria.

Sempre imaginei que teria uma Ana Luisa, mas jamais havia passado por minha cabeça que ela seria parte de uma mudança tão intensa em minha vida. Aos 12 anos, quando li um livro e me encantei com a pequena Ana Luisa, irma da protagonista, pensava que bebes nascem “de parto normal, no hospital, a não ser que algo não de certo”. Isso para mim era certo, como “2 e 2 são 4”. Meus exemplos diziam isso. Minha avo materna tivera 7 filhos, todos por partos normais hospitalares, o mais novo aos 39 ou 40 anos, pesando “mais de 4,5kg”, como meu querido avo sempre frisava. Minha avo paterna tivera “apenas” 4 filhos. Todas gestações “terríveis”, vomitando do inicio ao fim,mas 4 partos normais hospitalares, “fáceis e tranqüilos”. Só não teve mais filhos pois não queria mais vomitar tanto. Por fim minha mãe, que teve 2 partos normais hospitalares e uma cesárea, que eu achava ser necessária e hoje tenho certeza que foi mesmo (minha irma estava transversa, a bolsa havia rompido, ela estava em TP, mas sem liquido nenhum, portanto cesárea).

Quando engravidei do Rodrigo tinha recém completado 26 anos. Fazia o segundo ano de residência em pediatria, estava no meio de toda aquela “tecnologia medica”. Fiz o pré-natal com minha GO. Não mudei, não procurei um GO humanizado. Na região onde moro não conhecia ninguém, e “alem do mais a Dra tem alto índice de parto normal” – era o que eu sempre pensava e dizia. E na verdade ela ainda “faz” mais partos que cesáreas e e uma das poucas que não agenda cesárea eletivamente.

Fiz um “pre-natal-pacote-completo” com varias ecografias, exames, exames, e mais exames, procurando “pelos em ovos” numa gestação de baixo risco.

Havia aprendido na faculdade e na residência alguns clichês da obstetrícia que, de tanto uso, eu nem questionava se eram ou não baseados em evidencias. Dentre eles o uso regular da ocitocina para condução de trabalho de parto, o parto horizontal, a episiotomia de rotina para “não rasgar”, a analgesia sempre “pois ninguém precisa passar dor” e a indução de parto com 41 semanas para “não correr riscos desnecessários”. Hoje sei que são intervenções que podem e geralmente desencadeiam outras e tiram cada vezmais o protagonismo da mulher, mas na época…

E foi assim que, passadas 41 semanas de gestação, não tendo meu corpo “imperfeito” entrado em trabalho de parto espontâneo, fui para a indução. Eu “sabia” que era o procedimento “certo” a ser feito, mas me sentia parcialmente derrotada, com “alguma coisa errada”, pensando “mas por que eu não entrei em TP?”. Como uma grande parcela das induções, a minha “não deu certo” e apos cerca de 9 horas de “soro”, toques quase a cada hora, jejum, camisola de hospital, etc., fui para o centro cirúrgico, chorando, me sentindo um fracasso como mulher, para ser submetida a uma cesárea.

Na época, apesar de toda a tristeza e sentimento de menos valia, não culpei a GO – na verdade não a culpo ainda – ela não fez terrorismo comigo, não fez nada “sem me consultar”, ela apenas fez o que sabia fazer, o que acreditava ser o certo e o que eu não questionei, quando deveria te-lo feito.

Meu filho “nasceu bem”, pesou 4200g e eu ainda escutei do anestesista: “desse tamanho e você queria que nascesse por baixo? Ia rasgar e estragar tudo. Você teve sorte de precisar da cesárea”. Demorei mais de 4 horas para ter meu bebe em meus braços, e de tanta medicação para diminuir os efeitos colaterais da anestesia, olhava para o menino e achava que seu rosto tinha defeitos. Amamentei, naquela noite e em todas as outras, alem dos dias, por 14 meses. Isso me fez sentir melhor, mas não curou a dor do parto não acontecido.

Quando Rodrigo tinha 16 meses decidimos tentar o segundo bebe. Desde que namorávamos pensávamos em ter três filhos. Em 4 meses estava grávida. Comecei o pré-natal com a mesma medica. Eu gostava dela, achava que minha cesárea havia sido necessária naquelas circunstancias, ela apoiava o parto apos cesárea e havia “feito” um bom numero deles.

Essa gravidez foi um pouco mais tumultuada, eu trabalhava muito, vivia cansada. Mas tinha certeza que teria o parto normal. Tentei me preparar melhor dessa vez, sabendo que a idéia de que o parto normal era o mais comum não era correta.

Uma amiga me apresentou ao site do GAMA, me falou das listas de discussões materna-sp e partonosso, cheguei a entrar em contato com a Ana Paula Caldas, que tivera um parto domiciliar apos cesárea em 2004. Mas isso tudo era “alternativo demais” para mim. Eu ainda achava que lugar de parto era o hospital, que parir em casa era pra gente doida, que não ter anestesia era masoquismo… enfim, eu achava que estava me preparando para um parto normal, mas eu estava mesmo era acomodada no meu mundinho.

Algumas poucas coisas eu fiz “certo”. Decidi passar a maior parte do TP em casa, mas errei ao não chamar uma doula. Fiz fisioterapia, drenagem linfática, acumputura entre outras preparações, mas não me preparei internamente para parir. Não preparei meu marido para ser um pai ativo no parto, não fiz um plano de parto, confiei demais que minha GO daria as “coordenadas” e que com isso tudo daria certo e eu teria meu parto. A Ana Katz, minha amiga que hoje e doula me mandou um lindo kit de óleos par o trabalho de parto e o pós-parto, mas apesar de eu ter adorado os cheirinhos, não fui atrás de aprender a usá-los…

Com 39sem e 5 dias comecei a ter contrações de manha. Fiquei muito feliz, eram as minhas primeiras contrações espontâneas, tudo estava dando certo.Ainda estava em prodromos, tudo estava irregular. Ao longo do dia conversei varias vezes com a GO e de noite ela achou melhor me examinar. Fui “de mala e cuia” para o hospital, meus pais ficaram na minha casa com o Rodriguinho, agora com 2 a 5m. No caminho as contrações pararam. A GO me examinou, 3cm, nenhuma contração em 10 min., não era TP. Voltei para casa com a sensação de derrota. Eu não estava preparada para isso.

No dia seguinte não tive contrações, mas no fim da tarde elas começaram bem fortes. Não contei pra ninguém, fiquei fazendo escova e “chapinha” no cabelo da minha irma, de cócoras. Apos umas 2 horas não agüentava mais esconder. Ligamos pra GO, jantei (ai que fome que eu estava!) e fomos para o hospital. Chegando la, decepção: 3cm. Mas como estava com boa dinâmica, a GO achou melhor internar. A burocracia da papelada demorou cerca de 2 horas, e eu na salinha de exames do pronto socorro, totalmente sozinha, uma contração após a outra, minha cabeça “girava” (hoje eu sei que estava na partolandia, na época eu nem tinha idéia disso). Por volta das 21h30 fomos para o quarto. Novo toque pois eu estava com “cara de trabalho de parto”: 7cm. VIVA!!! Meu bebe ia nascer, e estava sendo tão rápido, eu ia dar conta, claro que ia! Fui para o banho, mas a água não esquentava. Minha GO sugeriu romper a bolsa para “acelerar a dilatação” (e ai começaram as intervenções, ARF). Ela perguntou se eu queria, e eu achava que era o caminho certo, aceitei sem titubear. Bolsa estourada, líquido claro: “vamos para a analgesia Joana? Agora vai doer muito mais, não tem porque você sofrer a toa”. Claro que fui. Quem, em sã consciência quer “sofrer a toa”? O problema e que eu achava que dores de contrações eram sofrer a toa, e não parte do processo fisiológico e maravilhoso. Mais uma vez: eu não havia me preparado!

No centro cirúrgico fui atendida por um eqüino em forma de anestesista que já soltou a frase básica: “senta ai mãezinha e não mova essas costas senão eu não anestesio nada e sua dor não melhora”. Como esse cara queria que eu ficasse sentada imóvel com uma contração atrás da outra??? Claro que não consegui ficar como ele queria e recebi diversas picadas “porque você não para um minuto pra eu acertar o lugar”. A “analgesia de parto” bloqueou minha sensação e meus movimentos da cintura para baixo. Não percebia nem as contrações. Deitadona la, na maca fria e estreita, foi horrível. Apos alguns poucos minutos a GO decidiu pela cesárea pelo “risco iminente de rotura uterina” Eu fiquei apavorada com aquelas palavras, já vira uma rotura uterina, não queria essa desgraca para mim nem para meu bebe. CESARIA foi então. So que apos alguns dias minha ‘ficha caiu”: não havia nenhum sinal real dessa “rotura iminente” e a GO ate comentara durante a cirurgia que o útero estava “lindo”.. arf.

Dessa vez o pós-operatório foi ainda pior que da primeira vez. Tanto a parte física quanto a psicológica. Demorei mais de 6 horas para “desbloquear”, ficando sem ver meu bebe por quase 7 horas. Em casa eu me sentia “o ultimo dos seres”, incapaz de parir mais uma vez, com dor, “uma inútil completa”. Pra piorar as coisas trabalhava por conta própria e tive que retornar com 40 dias sob a ameaça de perder o lugar. Aos trancos e barrancos, com muita dificuldade, consegui o aleitamento materno exclusivo por 6 meses (na verdade 174 dias). Mas tive uma depressão pós-parto mais intensa, tendo necessidade inclusive de medicação.A idéia do terceiro filho estava enterrada.

Mas a vontade de ter um parto não… então logo que estava um pouco melhor me inscrevi nas listas materna-sp e partonosso, comecei a ler sobre o assunto, participar de comunidades relacionadas no orkut… fui de verdade atrás de informação.

Me reaproximei da querida Ana Paula, que já fora minha professora na residência e que hoje me ensinou tanto de vida que e minha eterna professora. Entrei em contato com algumas pessoas maravilhosas e fundamentais como a Ana Cris, a Melania Amorim, entre outras.

Li o relato do nascimento da Rebeca, terceira filha da Priscila Teixeira, nascida num lindo VBA2C. Esse relato me fez pensar mais e mais. Percebi que não havia deixado de querer o terceiro bebe, eu tinha era medo de ter uma nova cesárea, mas agora eu sabia que eu não era “uma iterativa” que “vai ter que ter outra cesárea” uma “bomba relógio”. Priscila havia parido, outras tantas também, eu poderia e iria. Conversei muito com o Ro,meu marido, companheiro e que foi mais que fundamental e decidimos que engravidaríamos novamente, mas com algumas certezas: não iríamos na mesma GO, eu me “nutriria” e cercaria de toda informação possível, estávamos juntos nessa pra tudo, NAO TERIAMOS OUTRAS CESARIA DESNECESSARIA.

Comecei o pré-natal com a Dra Andrea, no GAMA, por indicação de meu irmão, que havia tido um bebe alguns meses antes (não com a Andrea, mas ele gostara muito dela e achava que seria o que eu precisava), desde 8 semanas freqüentei reuniões no grupo Samauma em Campinas (menos do que eu gostaria, mas cada uma foi essencial de sua maneira), lia, perguntava, me informava. Fiz Pilates e exercícios durante toda a gravidez, preparando também o corpo, alem da mente. Amamentei meu pequeno-grande Marcelo durante toda a gestação, mesmo quando nada saia, ele gostava e mamar. Fiz poucos exames, duas ecografias, nenhum toque.

Durante a gravidez, algumas coisas foram divisores de águas. Dentre elas o fato de meu convenio não cobrir os hospitais onde Andrea acompanhava parto – SIM, eu entendi que quem faz o parto e a mãe, o GO no Maximo acompanha – e de ela não poder vir a Campinas acompanhar-me por ter vários partos na mesmo época. No dia que eu soube disso estava sozinha. Chorei muito, passei quase uma hora ao celular com a Ana Paula: SOCORRO, o que eu vou fazer?

“Ue, por que não temos em casa” falou o Ro um dia, em tom de brincadeira, mas estaria ele brincando? Eu levei a serio! Comecei a pensar, pensar, ler,conversar pessoalmente e virtualmente com varias pessoas. Estava decidida a tentar, ir atrás. Mas, quem acompanharia uma “bomba relógio” em casa???

Foi ai o outro divisor de águas. Fui assistir ao relato do parto da Priscila, sim, aquela mesma que eu havia lido meses antes e que tinha me inspirado. Ela estava em Campinas e Ana Paula e Lara (quem eu já havia decidido convidar para me doular, fosse em casa ou no hospital) a convidara para ir ao grupo Samauma. Parecia que eu já a conhecia pessoalmente. Seu relato, e de seu marido, foi tão emocionante, adoramos. Foi muito importante tanto para mim quanto para o Ro. Ali mesmo tive certeza, meu parto precisava ser em casa. Era isso que eu queria. E a própria Priscila me indicou minhas parteiras, Márcia e Priscila do Primaluz.

Tive minha primeira consulta com a Priscila em Julho. Como o pré-natal com parteira e diferente. Como nos sentimos saudáveis. Ela veio a minha casa, conversou comigo de tudo, examinou minha barriga, minhas costas meus pés, me viu como um todo, não como uma barriga.

Dai para o fim da gravidez eu fui me sentindo cada dia mais segura das minhas decisões. Fui fazendo os arranjos necessários, tudo sem pressa. Ainda lia muitos relatos de parto, mas não me preocupei mais em ler estudos cientificas sobres riscos etc. Minha decisão estava tomada, não fora baseada em “achismos” ou “birras”, mas sim em evidencias. Não havia mais o que temer. Apenas era necessário cercar-me de pessoas que confiavam em mim e saberiam o que fazer caso uma intervenção fosse mesmo necessária. E isso eu já havia feito.

Preparei um bom “plano B”, com uma certeza que não seria necessário, mas também com a segurança de que, caso fosse, estava arranjado e pronto para a necessidade. Tinha um combinado só meu e do maridão: vamos para o hospital SOMENTE para uma cesárea. Ele me certificou que não me deixaria tomar decisões que depois me arrependeria no “calor da partolandia”. Eu nada tinha a temer.

Continuei meu pré-natal com uma medica amiga, que atendia meu convenio e pedia exames quando as parteiras indicavam necessidade, que já sabia que não estaria no meu parto, mas nem desconfiava que seria domiciliar. Negociei com ela todos os exames e fiz os que eu sabia serem necessários, agora munida de evidencias cientificas e não mais apenas pelo “uso”. Eu já era outra mulher em relação as gestações anteriores, eu estava no controle.

Com 37 semanas fizemos o Belly Cast, que curtição. A barriga estava pesada, o calor grande, dois filhos e uma gravidez no final não eram tarefa fácil, mas tudo corria tão bem que parecia mais fácil.

Com 40 sem e 1 dia comecei os prodromos. Dessa vez eu sabia o que eles eram, tinha lido, assistido, ouvido. Não me preocupei. Conversei com minha doula, algumas vezes com minha parteira. Aproveitei cada dia para ficar muito com meus meninos. Cheguei ate a desejar que demorasse mais uns dias para engrenar o TP pra eu poder curtir mais a família e os últimos dias da barriga.

No feriado de 2 de Novembro (40 sem 3d) tive vários períodos de contrações. Fiquei na piscina, pulei na cama elástica, andei no shopping.

Naquela noite me senti diferente. De madrugada comecei a ter contrações mais regulares. Ainda bem curtas, mas cada vez menos espaçadas. De manha liguei para minha parteira que sugeriu que eu fosse examinada. Fui ao hospital onde a querida Mariana estava de plantão. Ela fez o toque, contou contrações e viu que parecia mesmo um trabalho de parto começando. Fui então orientada a ir pra casa e ligar para a doula mais tarde. Pela hora do almoço a Lara chegou e viu que minhas contrações estavam mesmo próximas. Ligou para a Priscila e ai tudo foi andando. Montamos a piscina no meu quarto, Priscila e Márcia chegaram. No meio da tarde eu estava com contrações irregulares, mas a dor aumentando muito, principalmente em baixo da barriga. Priscila decidiu me examinar, mas eu estava com o mesmo toque que varias horas antes. Isso foi muito decepcionante. Eu senti a sensação de “inutilidade” que há tanto estava esquecida. Mas a diferença e que agora eu estava cercada de pessoas que confiavam em mim, no meu corpo, na minha forca como mulher, como mamífera. Um grupo de pessoas que estava ao meu lado para me apoiar realmente, para me guiar em meu parto.

As parteiras foram embora, mas antes me deram uma homeopatia para diminuir as contrações. Lara ficou comigo. Consegui dormir, mas menos de uma hora. A dor estava quase continua. Mesmo fora das contrações. Eu estava cansada, começava novamente a duvidar que era capaz de agüentar.

A noite foi difícil. Revezava entre o chuveiro, a piscina, a bola suíça, a cama de lado. Nada confortava, não tinha posição sem dor. Me perguntava: mas aonde estão os intervalos onde a mulher ri, brinca, sente-se bem? Se com tão pouca dilatação eu já estou exausta, não vou agüentar.

De madrugada comecei a perceber que não estava conseguindo fazer xixi, apesar de estar bebendo litros e litros de água e água de coco. Comentei com a Lara. Bem cedinho ligamos para a Ana Paula e ela sugeriu que talvez pudesse ser cólica de pedras renais. Eu já havia tido diversas vezes antes, não parecia igual, mas eu nunca tivera uma crise durante a gravidez. Tomei então um forte analgésico prescrito por ela e.a dor praticamente passou, as contrações pararam e eu dormi uma hora. A Lara foi embora, Ana Paula veio me visitar e a meu pedido fez um toque para avaliar o colo. Parecia bem mais trabalhado e um pouco mais dilatado. Apesar de ser “um pouco mais” isso me deu um animo inexplicável. Mais uma vez minha pediatra-doula-faz-cafe-etc fazendo papel de anja… Um pouco mais tarde fui fazer um ultra-som e uma monitorização, pois no dia seguinte completaria 41 semanas e minhas parteiras queriam ver como estava o liquido amniótico e o bebe. A pessoa que fez o US foi PESSIMA. Não estou questionando suas capacidades profissionais, mas suas interações humanas. Começou criticando o fato de eu estar com quase 41 semanas, duas cesáreas anteriores e estar planejando a “loucura” de uma parto normal (e ela nem imaginava que seria em casa). Eu estava tão cansada e a dor voltando que nem dei importância a isso… só fiquei preocupada pois ela calculou um índice de liquido amniótico baixo e me fez um certo terrorismo quando a bebe não teve os movimentos esperados durante a monetarização. Esperados por ela, diga-se de passagem, pois ela se moveu mais que o normal.

Passei aquela tarde no hospital recebendo analgésicos. Precisei mentir minha idade gestacional, com medo que o plantonista me internasse. Mas isso eu sabia fazer. Grande parte de meus amigos, colegas e família, inclusive meus pais, tinham uma idéia vaga sobre nossa idade gestacional, pois eu não queria apavorados a minha volta, mentir sobre a IG foi importante…

A noite fiquei bem chateada, pois como o liquido amniótico parecia estar diminuído e eu estava com infecção de urina (constatada no hospital), o parto domiciliar estava ameaçado pois, corretamente, minhas parteiras só acompanham gestações de baixo risco em casa, claro.

Dormi pouco, mas me senti descansada. Quase não tinha mais dor, e meu medo de não agüentar o TP havia sumido completamente. Eu sabia agora que não eram “dores de parto” que havia passado mais de 24h sentindo, e sim dores das cólicas renais, e que aquelas contrações ineficientes para dilatação do colo nada mais eram que reflexo da dor. Se eu havia agüentado o “parto da pedra” iria agüentar o verdadeiro trabalho de parto, durasse ele quando fosse, eu estava revigorada, eu PODIA!

Pela manha fui fazer um novo US para reavaliar o liquido. Dessa vez fui com o profissional de meu agrado, que foi criterioso, cuidadoso e meticuloso. E constatou que o exame do dia anterior tinha subestimado o ILA. UFA, respirei aliviada. Conversei com minha parteira, que por sua vez conversou com um medico de sua confiança e tudo estava resolvido: prosseguíamos com o planejamento do parto domiciliar.

Essa manha foi um turbilhão de emoções para mim. Me sentia exausta emocionalmente, mas meu corpo estava pronto para uma maratona. Minha filhota saltitava em minha barriga, nem parecia que estava tão apertadinha La dentro. Por sinal, isso foi uma coisa que sempre me tranqüilizou: Ana Luisa se movimentava bastante. Detalhe: as 41 sem de gestação fora sozinha a clinica de ultra-som. Não queria que o Ro perdesse mais dias de trabalho.

Cheguei em casa por volta de 13h e logo o Marcelinho, que não havia ido a escola, pediu para mamar. Pensei: vou dar peito ate entrar em trabalho de parto, que venha a ocitocina (rs). Mas não se passaram nem alguns minutos e senti um molhado, achei que havia feito xixi na roupa… Que ingenuidade:minha bolsa havia rompido.

Mais uma preocupação: bolsa rota fora de trabalho de parto, tratando uma infecção de urina. Logo liguei pra Priscila, que me tranqüilizou (de novo,olhem a importância da equipe certa me acompanhando), me passou uns chás, me pediu pra entrar em contato com uma acumpulturista especializada em parto e fazer o que quisesse e achasse bom.

Fiz o que ela falou, conversei com a acumputurista que me pediu pra esperar 6 horas e ligar novamente se não entrasse em TP. Por volta das 15h o RO chegou, eu já estava com contrações, mas bem espaçadas. Por essa hora o tempo já corria diferente para mim. Tudo pareceu passar rápido. Ler e responder e-mail parece que demorou alguns segundos, mas mais de uma hora se passara…

Por volta das 16h30 eu comecei a contar a freqüência das contrações, que agora estavam vindo regularmente. Umas 17h liguei pra Lara que pediu para ligar novamente em 1h. Fiquei pela casa. Me agachava quando sentia dor, conversava e brincava entre as contrações. Isso me parecia natural, tão diferente de 2 dias atrás.

18h eu já estava com 3 contrações em 10 minutos. Lara foi para o grupo (era uma 5a feira). Eu não havia ligado ainda para a Priscila, não quis fazer que todas viessem novamente “sem necessidade”. La pelas 19h30 conversei, ou melhor, tentei conversar com a Mariana entre as contrações. Ela percebeu que eu estava com “voz de trabalho de parto” e mandou que o Ro ligasse para a Priscila. Ele ligou, mas eu queria alguém mais rápido, estava com MUITA dor nas contrações. A Ana Paula chegou logo em minha casa. Me lembro dela chegar, pedi que ela fizesse um toque. Foi quase cômico pois eu só queria ficar de quatro e ela tentando tocar. Mas deu certo, estava com 7 cm e as contrações a todo vapor. Esse toque foi outra injeção de animo. Eu não me lembro, mas ela conta que, ao chegar pensou/falou: essa mulher ai pelada e gritando nas contrações, ou esta em transição ou não vai agüentar… E eu estava mesmo em transição.

Tentei a banheira – construída especialmente para o parto – mas não gostei. Na primeira contração a água me pareceu horrível. Encontrava uma posição mais confortável de quatro no sofá com o Ro pressionando meu quadril. Só servia essa posição e só servia o Ro. Quando eu quis sair da sala e ir para o quarto, quase obriguei o Ro a levar o sofá, e o lindo levou! De tempos em tempos me lembro de meus meninos vindo me ver. Rodriguinho olhava meu períneo e perguntava quando a Ana Luisa ia sair. Que delicia meus filhos podendo estar comigo nessa hora. Só em casa mesmo…

Por volta de 21h30 a Priscila chegou. Pedi que me examinasse, eu estava com muita dor e as contrações estavam quase emendadas. Eu já estava com apenas um rebordo de colo. Perguntei a ela: Será que nasce hoje? Não sei se eu agüento mais uma noite de contrações. E ela riu e brincou: se nasce hoje? Quase que nasce antes de eu chegar aqui, CLARO que nasce hoje. Outra injeção de animo, que delicia!

Quase 22h (isso eu sei pelas fotos e pelo Ro contando, eu mesma não tinha nem idéia) fui pro chuveiro. QUE DELICIA. O alivio nas contrações era enorme. Fiz cair o disjuntor umas 2 ou 3 vezes de tão quente que queria a água.

Aos poucos, a cada contração, fui me sentindo diferente. Senti claramente quando a bebe começou a rotação em meu quadril, quando começou a “coroar” com o inicio do “circulo de fogo”. Lembrava-me vagamente de relatos de parto que havia lido e ouvido. Em nenhum momento pensava ou lembrava de riscos, etc., mas lembrava tão bem de coisa boas, como a natureza é sabia…

Quando comecei a sentir a ardência perineal durante as contrações a Priscila me ofereceu o banquinho de cócoras. Sentei nele e sentia muita vontade de fazer forca durante as contrações. Nos intervalos olhava para meu banheiro e via os rostos que eu queria mesmo que estivessem la: Priscila, Ana Cris (quese voou de Sampa aqui para estar comigo nesse momento especial), Lara, que nalgum momento que eu nem sei qual chegou e se tornou minha fotógrafa oficial, Ana Paula de vez em quando por ali também.

Rodrigo, ao contrario do que eu imaginava, não teve qualquer inibição em tirar a camiseta e vir me amparar no chuveiro. Ficou atrás de mim, me ajudando e me encorajando a cada puxo.

E não foram muitos. Logo Ana Luisa nasceu. Senti ela começando a sair, mas a emoção misturada era tamanha que não consegui colocar as mãos em seus cabelinhos, demorei alguns instantes para entender que ela não tinha voltado pra dentro e sim saído, e estava ali, em meus braços. Chorei, Ro chorou, acho que mais gente chorou, mas eu não vi. Estava preocupada em saber se minha filhota estava bem, e a Ana Paula me tranqüilizando: ela esta ótima, mas ela é muito grande Joana, sua barriguinha escondia!

Ela estava ali, nos meus braços. EU CONSEGUI. EU FUI FORTE, EU NASCI DE NOVO ali, com minha filha.

Juntas fomos para o quarto, ela foi seca e pesada ao meu lado, veio ao seio com poucos minutos de vida. Não fomos separadas, meu pequeno amor e meu grande amor, meu marido companheiro, estivemos juntos todo o tempo.

Tive uma pequena laceração que foi suturada. Brinco que o que mais doeu em todo o parto foi a anestesia local para os pontinhos…

Com 1h de parida me levantei (ta bem, com auxilio pra não cair) e com minhas próprias pernas fui ao banheiro, ao MEU banheiro fazer um xixi. Me lembrei das minhas cesáreas, quando precisei usar sonda para urinar por quase dois dias, quando sentia dor ao me movimentar, ao respirar, por algumas semanas, quando precisei usar um banheiro que não era meu, com uma privada alta e estranha… Pensei como eu era feliz agora, com essa “pequena coisa” que era poder urinar sozinha no meu banheiro… Falei então: “quem teve um parto natural e domiciliar logo de cara que me perdoe, mas ter tido as duas cesáreas foi fundamental para eu apreciar tudo isso”.

Aos poucos minha equipe foi se despedindo e indo embora. Fiquei em minha cama, namorando minha filhota com meu marido. Foi uma noite inesquecível. Foi a primeira noite do resto de minha vida. A primeira noite da Ana Luisa e a primeira noite da Joana-mamifera-que-pode.

Na manha seguinte recebi em minha cama meus filhos queridos. Marcelo pode mamar ao lado da irma como eu tanto sonhara. Algumas horas depois recebi meus pais, assustados com nosso parto, mas orgulhosos da forca de sua filhota.

Quero muito agradecer as pessoas tão importantes para que eu hoje possa escrever essa historia de sucesso:

Rodrigo, meu amor, meu companheiro, que entrou de mansinho na minha vida e no meu coração e que, quando eu vi “danou”.

Rodrigo e Marcelo, meus filhos lindos, nascidos de uma forma tão desumana, mas que me ensinaram a ser mãe e continuam me ensinando todo dia. Me desculpem por tudo.

Meus pais, que acreditam em mim, se orgulham, mesmo eu tendo tanto medo de dividir meus planos de parto com eles não ficaram zangados e juram que não se sentiram traídos.

Mamo, meu irmão querido, você ouviu tanto e falou tão pouco, justamente o que eu precisava

MAATS, irmãs do meu coração. Especialmente a Jana, que mora com o papai do céu e esteve comigo em todos os momentos, eu senti você, viu!

Priscila e Márcia, vocês acreditaram em mim!

Ana Cris, você sabe por que, né?

Ana Paula, nem preciso te falar, mas você sabe que eu amo falar…

Lara, minha “doula da pedra”, minha fotografa de parto, querida demais!

Mari Simões, tão querida. Se eu tiver outro você vem, né?

Melania Amorim que abriu meus olhos com a frase: “você quer ter um filho ou quer parir?”

Leila Katz e Vivi Coentro, que dividiram a gravidez comigo e também tiveram
seus lindos partos apos cesáreas. E ainda estão tão presentes sempre.

As mães que dividiram comigo seus relatos de parto, em especial Priscila, Andrea Quirino e Andrea Fangel, por seus partos apos múltiplas cesáreas.

As listas materna-sp, partonosso e materna-samauma e seus integrantes.

As MRs, conheci vocês no finalzinho da gravidez, mas seu apoio foi fundamental.

As poucas amigas que sabiam de meus planos de PD e me apoiaram, vocês sabem quem são.

E especialmente: Ana Luisa, minha filha maravilhosa, que mudou minha vida, que arrebatou meu coração. TE AMO FILHA!

4 comentários:

  1. Nossa...que relato mais lindo!!! que injeção de ânimo ao meu propósito de também ter um parto natural e no aconchego do meu lar...
    Obrigada Joana e RÔ por dividirem aqui este lindo momento!!!

    ResponderExcluir
  2. Jô, lendo seu relato até estou com vontade de encarar um parto assim.
    Parabéns, sinto sua falta aqui em Indaiatuba.
    Laura Eloá nunca mais encontrou uma pediatra tão humana.
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Oi, eu me chamo Joceli e tenho 19 anos
    eu amei seu relado me emocionei muito, tive meu primeiro filho de uma cesária desnecessária e estou gravida de novo com 27 sem quero um parto normal mais tenho muito medo e aqui onde moro quase ninguem me incentiva pelo fato de ser recente meu bebe tem 22 meses. Sou do piauí e quero tentar um parto normal. Seja o que Deus quizer.

    ResponderExcluir
  4. Por favor, gostaria muito dos tels da Dra. Thelma (Relva), pois perdi e gostaria imensamente de falar com ela.
    Obrigada
    Lígia

    ResponderExcluir

O que achou desse relato?
Deixe seu comentário, pergunta ou sugestão.