O Nascimento do Felipe, parto desassistido, versão do marido

Dois anos e meio depois a Mariana ficou grávida. Foi estranho, pois demorou alguns meses para consegirmos e quando acontece parece que o nosso mundo dá uma sacodida e tudo muda. Tudo fica diferente.

O André nasceu em 09 de janeiro de 2005 em um Parto domiciliar planejado com a equipe do Doutor Jorge Kuhn, mais umas 6 pessoas no quarto e umas outras 10 no andar de baixo da casa.

Um calor intenso durante todo o dia e um trabalho de parto extremamente tranqüilo, em que a Mariana não soltou um ruído e o nosso filho nasceu na maior paz do mundo, achávamos nós na época.

O pai (eu), preenchido por tamanha emoção, quase desmaiou.

Atenção especial ao “quase” ok?

Só quem tem um filho sabe o que é tê-los. O mundo ganha um único sentido. Tudo o que fazemos gira em torno deles. As alegrias diárias, as curiosidades, a ingenuidade, a sinceridade, nos contagiam e nos fazem felizes. Pelo menos comigo, me faz esquecer, não de todos, mas de pelo menos alguns problemas.

Quando recebemos a notícia da segunda gravidez essa emoção foi muito diferente da primeira, pois a nossa vida já estava tão tumultuada, que quando lembramos da barriga, ela já está lá, pomposa, enorme e recheada por uma vida que nos trás as primeiras angústias: como será o parto? Qual será a carinha dele? Será que ele está bem? Será que ele é parecido com o primeiro?

O mais interessante de tudo foi o questionamento das pessoas em relação ao parto. Perguntas como: será em casa de novo? Porque vocês não fazem na água? Vocês não serão novamente ingênuos de ficar em casa, vão?

Todas essas perguntas nos levam a ter cada vez mais a certeza de que queremos e sempre vamos querer ter filhos em casa, não é?

Na primeira gravidez, procuramos o PD apenas um mês antes do André nascer. A Mariana entrou nas listas de discussões depois do parto. Agora foram três anos de leituras diárias sobre o assunto, tanto nas listas, quanto em livros de renomados médicos como Michel Odent e Ricardo Jones. Aprendemos a refletir sobre tudo o que líamos e tudo o que acreditavam ser melhor para os nossos filhos. Confesso que nunca li nem um décimo do que ela leu, mas sempre antenado, ganhei confiança e conhecimentos suficientes para acreditar qual seria a melhor maneira de cuidar de um filho em relação aos cuidados médicos e alimentares. Esses três anos de estudo fizeram com que refletíssemos cada minuto do trabalho de parto do André. Foram 6 horas de angústia e de espera, mas sempre sabendo que estávamos dando, talvez, o melhor presente que ele irá ganhar em toda a sua vida: o direito de nascer, sem intervenções que desrespeitassem o tempo dele.

Em um certo momento, depois de mais ou menos seis meses de gravidez, surgiu um assunto interessante na nossa família. A Ma disse que não queria aquela muvuca de gente em casa, e que descreveria no plano de parto o papel de cada um no dia do nascimento.

Nese momento percebi que tudo seria diferente, pois realmente ela decidira ter o filho sem ajuda profissional. Começamos a conversar quase que diariamente e, como sempre, a Mariana começou a entender cada vez mais do assunto e a ficar cada vez mais segura na sua decisão. Percebi ao longo do tempo que realmente o assunto era sério, e como disse Cris Balzano, quem precisava de ajuda para parir era eu. Nós homens deixamos pra pensar no assunto apenas nas vésperas, não é mesmo?

Ao ler alguns livros e alguns textos, fui me convencendo de que aquilo era realmente o melhor pra todos. Agora só restava me preparar, pois ao contrário do primeiro parto, não poderia passar mal de jeito nenhum. Mas é impressionante a nossa força. Quando precisamos realmente do nosso corpo, ele não falha.

Uma semana antes do nascimento do Felipe marcamos uma consulta com a Ana Cris para explicar o que queríamos. Antes disso, ficamos extremamente reciosos em conversar sobre a ausência do Dr. Jorge no parto, e para nossa surpresa e admiração, ele se emocionou de um jeito que eu jamais esperaria. A certeza que eu tive naquele momento é que o Jorge trabalha cada vez mais para que as mulheres cada vez menos precisem dos serviços profissionais dele. Ao contrário de qualquer profissional da área da saúde, salvo raras excessões.

A conversa com a Ana Cris foi espetacular. Essa mulher é fantástica. É gritante o compromisso dela com as mulheres desse grupo. Ela fez com que eu saísse do GAMA com a certeza de que nós daríamos conta do parto. Com a certeza de que poderia contar com ela para qualquer coisa. E pudemos contar mesmo.

Então, no dia 15 de janeiro de 2008, o meu Felipão resolveu vir ao mundo nos meus braços. Num trabalho de parto relâmpago, ele veio em apenas 1H10. Às 12H20 levei alguns tapas e um grito de uma mulher fantástica, capaz de coisas que toda a medicina obstétra duvida: “acorda que seu filho vai nascer!!!”. E à 01H27 ele deu o seu primeiro choro.....E que choro...

Providenciamos tudo o que deu tempo. A Ana chegou já no expulsivo, mas ficou no andar de baixo. Não deu tempo de chegar ao quarto. Cheguei, o Felipe coroou e ali nasceu, sereno aos olhos do pai chorão, babão e forte como nunca acreditei. Segurei-o no colo e entreguei à mãe que sonhou com aquele parto exatamente como ele foi: na presença da mão dela, do marido e só, com o André dormindo tranquilo no quarto ao lado.

Depois de alguns minutos lembrei que a Ana estava em casa. Quando abri a porta a vi na escada sentada, ela olhou pra mim e perguntou, num ar irônico e emocionado: “E aí, ele está bem?”. Avaliei como se fosse um profissional da área, esnobe e realizado: “Está ótimo!!!!”.

É incrível como o nosso corpo reage da maneira correta quando realmente acreditamos. O meu, o da Mariana, tudo isso encorajado e muito bem embasado nas explicações e observações de todo um grupo de pessoas que um dia terão a recompensa de tudo isso que estão fazendo por essas crianças. Elas são fortes, poderosas e acima de tudo respeitadas.

Parabéns Ana Cris e Dr. Jorge pelo trabalho que desenvolvem. Parabéns a todo o grupo que acredita no amor e pratica isso. Obrigado a todos que participaram direta e indiretamente do nosso parto.

Hoje vejo os meus filhos e penso: amo muito tudo isso!!!

Cesar Betioli

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